A lista de pensadores da ciência política, ultrapassa os
que acima estão citados, citei apenas estes, devido a que entendo não ser o objetivo
deste livro, abranger toda a Filosofia Política como um compêndio, mas, referir
de forma concisa os
que considero serem os mais marcantes pensadores que contribuíram para a Ciência Política.
que considero serem os mais marcantes pensadores que contribuíram para a Ciência Política.
Assim, este capítulo aborda desde Platão e Aristóteles a Santo Agostinho e
São Tomás de Aquino; desde os racionalistas e iluministas aos mais recentes,
visando servir de orientação para a aprendizagem do tema e de indicação de
leitura dos principais livros de cada pensador.
Na Grécia antiga, debruçaram-se no pensamento filosófico
sobre política, entre outros, os filósofos clássicos como Platão e Aristóteles,
sobretudo no que concerne aos sistemas de governo ideais para a época.
Platão (428-348 AEC), fora aluno de Sócrates; era filósofo,
matemático e pedagogo, tendo fundado a Academia em Atenas, escreveu o seu mais emblemático livro sobre política, 'A República', livro que fundamenta o seu ideal de governo,
idealizando a origem dos Regimes Sãos, que se degenerariam em Regimes
Imperfeitos, mas que ciclicamente se recuperariam pela dinâmica da política.
Aristóteles (384-322 AEC), era aluno de Platão, além de filósofo
Aristóteles foi também pedagogo pelo que foi precetor de Alexandre o Grande da
Macedónia e fundou também o Liceu e a escola peripatética. Exerceu uma profunda
influência para a filosofia política e teológica na Escolástica da Idade Média,
via a política como uma “Ciência Maior”, é aliás de
Aristóteles o conceito das três vocações do Ser Humano a vocação social, a
vocação política e a vocação ética ou moral, visto que o Ser Humano é
considerado por ele, como um Animal Político, escreveu ‘A Política’ obra dedicada ao estudo da Pólis e a organização do
Estado com o objetivo de surgir um Governo capaz de gerir o bem comum para
todos; tal como Platão, afirmou que entre governos sãos e governos degenerados
pelo desgaste, acaba por se desenvolver a tirania e posteriormente ressurge o
governo bom.
Embora na Grécia antiga, já se discutisse sobre política,
contudo, ganha forma pela Escolástica e o pensamento político implícito nas
doutrinas de dois grandes pensadores, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, tendo
em conta a importância da Igreja Católica numa sociedade praticamente
teocrática, que visava dominar os destinos do Mundo.
Santo Agostinho (354-430 EC), nasceu em Hipona, foi um pensador e
teólogo católico, influenciado pelo platonismo, não separava a doutrina
política da teologia e nem da moral, pois para Agostinho, havia uma unidade
intrínseca entre esses três níveis da doutrina, pensamento e práxis. Um dos
seus mais famosos livros foi ‘A Cidade de Deus’ no qual se debruçou sobre as relações entre a sociedade,
o poder, a Igreja e o Estado (Lara 2007).
São Tomás de Aquino (1224-1274), nasceu em Nápoles, na altura a Itália ainda
não era um país unificado, mas um retalho de reinos e repúblicas. Aquino foi um
brilhante pensador da Escolástica, de tendência aristotélica, doutrina que difundiu
enquanto professor em Paris e mais tarde em Nápoles, sua cidade natal, a sua
obra mais influente foi sem dúvida a ‘Suma Teológica’, um livro de apologia teológica do catolicismo. O seu pensamento
aristotélico era marcado pelo pessimismo antropológico e a ideia do Pecado
Original, escreveu ainda “Comentários aos Tratados de Aristóteles”, onde Aquino defende a monarquia contra a república e
define os deveres dos governantes cristãos. Morreu com 49 anos.
Nicolau Maquiavel (1469-1527), Pensador do Século XVI que fez surgir um
novo conceito político, afirmando que todos os Estados ou são Monarquias ou
Repúblicas, e lança assim o estudo dos Sistemas de Estado, sendo por isso considerado
o primeiro pensador da política como ciência, sobretudo pelo cunho dos seus
mais famosos livros, ‘O Príncipe’ e outro livro ‘A Arte da Guerra’, título homónimo de uma obra de Sun Tzu; O primeiro é
aliás um livro de análise política, obrigatório a todos os alunos
universitários de Ciência Política, também é da sua autoria a frase de que “os
meios justificam os fins”, tinha o interesse em que a Política utilizada de
modo eficaz, pudesse unificar a Itália, então dividida em vários reinos e
repúblicas e assim se formasse um governo laico e eficiente para gerir um
Estado Forte baseado numa República em novos moldes.
Thomas Morus (1478-1535), inglês e católico foi Primeiro-ministro, e
veio a ser mártir por ter sido preso e executado por ordem de Henrique VIII de
Inglaterra, por recusar-se a renunciar ao catolicismo e por ter-se oposto ao
rei no que se refere aos casamentos ilegítimos, ao Cisma Anglicano e à persecução contra os católicos romanos em Inglaterra.
Thomas Morus escreveu um dos mais célebres marcos da filosófica
política ‘A Utopia’ que é a sua obra-prima, livro que tem como subtítulo o
“Tratado da melhor forma de governo” baseado numa ilha imaginária, onde
reinasse um governo justo, o significado etimológico do termo “Utopia” é “em lugar nenhum”, nessa ilha não existia propriedade privada, a economia
era planificada com a ausência de dinheiro e de metais preciosos, tinha uma divisão
igualitária do trabalho, com a obrigatoriedade do exercício de uma atividade
laboral, promovia-se a eliminação dos vícios, a criminalidade, a prostituição, os
jogos de azar, as apostas e o recurso ao crédito pela usura. A família era o
coração da sociedade da Utopia e a organização política baseava-se a partir de
um senado eleito por um ano. Neste sentido podemos aferir que Thomas Morus foi
um dos precursores do Socialismo, de uma corrente de pensamento que é
considerada de Socialismo Utópico.
Jean Bodin (1530-1596), outro grande pensador do Século XVI foi o
francês de origem judaica, formado em Direito foi professor na Universidade de Toulouse,
e um dos grandes humanistas do renascimento; A sua maior obra foi sem dúvida ‘Os Seis Livros da República’ precisamente por ter sido editado em seis volumes. Foi
considerado um politólogo no sentido exato da palavra, debruçando-se sobre o
funcionamento dos Regimes de Estado, as formas do exercício do poder e os
atributos da soberania entre outras contribuições para a Ciência Política.
FRANCIS BACON (1561-1626), um grande humanista inglês nascido em
Londres, formado em Direito, foi advogado e membro da câmara dos comuns, a sua
principal obra são os ‘Ensaios’ escritos em 58 volumes. Fora um crítico da escolástica e
do aristotelismo, pelo que foi um precursor do empirismo científico.
THOMAS HOBBES (1588-1679), inglês, fugiu da República de Oliver
Cromwell em Inglaterra, foi para França onde conheceu Descartes, pelo que se
tornaram grandes amigos. Quanto ao seu pensamento, Hobbes era um pensador
pessimista, para ele, a natureza humana é negativa e acreditava que a
humanidade se dedicava a viver para as paixões.
Hobbes escreveu ‘O Leviatã’ um dos seus mais importantes e influentes
livros filosóficos e políticos, como pensador era da corrente Contratualista, e
valorizava a paz e a concórdia em detrimento da Guerra, pois via na Guerra a
origem de vários males sociais, defendia também um Estado laico acima da
religião.
BARUCH ESPINOZA (1632-1677), nasceu em Amsterdão, era filho de judeus
sefarditas que se refugiaram na Holanda por terem sido expulsos de Portugal
pela inquisição no Reinado de D. Manuel I, tendo sido encaminhado por seu pai
para uma Yeshiva (escola rabínica), acabara no entanto por vir a rejeitar os
dogmas religiosos do judaísmo; a sua origem sefardita fez com que se debruçasse
no estudo do seu povo e da realidade religiosa e política vivida então na
Península Ibérica que em hebraico se chama Sefarad.
Da sua obra, destaca-se o livro ‘Tratactus Theologico-Políticus’, no seu pensamento político e filosófico
destacam-se a defesa do Panteísmo, a distinção do conhecimento por níveis de pensamento,
defende no campo da política a democracia e um Estado forte, a miscigenação dos
povos dentro de uma nação, ou seja, defende os casamentos mistos e o combate à
endogamia, que por sinal era o sistema de casamentos adotado pelas comunidades
judaicas como forma de se manterem intactas.
Espinoza teria segundo alguns autores, recebido
influência dos pensadores rosacrucianos, além disso, o conjunto das suas ideias
levou a que fosse excomungado da comunidade judaica a que pertencia.
JOHN LOCKE (1632-1704), nasceu em Inglaterra na cidade de Wrington,
recebera forte educação religiosa, de cariz protestante e da corrente do
puritanismo, formou-se em medicina em Oxford, mas exerce a princípio a docência
de grego e filosofia, só mais tarde envereda na medicina; devido a divergências
de natureza política refugiou-se na Holanda; De regresso à Inglaterra,
assumiu-se como um defensor do liberalismo económico e político. A sua
principal obra é o ‘Ensaio sobre o entendimento humano’, é considerado o precursor do iluminismo e
do empirismo britânicos.
MONTESQUIEU (1689-1755) Iluminista francês nasceu na localidade de
La Brède perto da cidade de Bordéus, seu nome de batismo era Charles-Louis de
Secondat, Barão de Montesquieu; Estudou Direito, dedicando-se aos assuntos
políticos, escreveu ‘O Espírito das Leis’ a sua principal obra-prima. É dele a conceção da
Separação dos Três Estados, ou seja, dos três poderes políticos, Executivo,
Legislativo e o Judiciário, tendo-se inspirado muito no pensamento de Locke.
VOLTAIRE (1694-1778), o
seu nome verdadeiro era François-Marie Arouete, usava o pseudónimo de Voltaire
nas suas obras, nasceu em França e viveu refugiado em Inglaterra, dos seus
livros que mais importância tiveram para a Ciência Política, destaca-se ‘Cartas Filosóficas’, Voltaire acreditava numa ordem natural e
universal, não acreditava ser possível a igualdade social, lutou contra a pena
de morte e defendeu uma reforma social a favor da liberdade de expressão, mas
também defendia o Despotismo iluminado.
JEAN-JACQUES ROSSEAU (1712-1778), nasceu em Genebra na Suíça, no seio de uma
família pobre e tendo vivido grandes dificuldades na infância fez dele um
idealista e um internacionalista no termo exato da palavra, foi apoiante da
Independência dos Estados Unidos, defensor da Revolução Francesa e dos ideais
democráticos, Rosseau tomava sempre o partido dos mais fracos, pelo que foi
considerado um utópico; Da sua obra, destacam-se ‘O Contrato Social’ que aborda a sociedade e a organização política; Rosseau
morreu em extrema pobreza aos 66 anos em França.
DAVID HUME (1711-1776), pensador britânico nascido em Edimburgo na
Escócia, trabalhou no comércio e foi bibliotecário e depois empregado na
embaixada britânica em Paris, destaca-se o ‘Tratado da Natureza Humana’ como o principal livro no conjunto da sua
obra, no que concerne à Ciência Política. Hume entendia que o que movia a
dinâmica social eram os impulsos egoístas e os impulsos altruístas.
EMMANUEL KANT (1724-1804) Filósofo prussiano, nasceu na cidade de
Königsberg, recebera uma rígida educação luterana com vista a seguir a vida
religiosa, foi docente, lecionou toda a vida na sua cidade natal, de onde aliás
se diz nunca ter saído. A sua obra-prima filosófica é a ‘Critica da Razão Prática’ que teve grande influência para o
desenvolvimento da ciência política.
FRIEDRICH HEGEL (1770-1831) nascido na cidade de Estugarda, estudou
teologia e filosofia no seminário protestante da sua cidade natal, mais tarde
deu aulas particulares, posteriormente tornou-se professor universitário, da
sua obra, sobressaem a ‘Introdução à História da Filosofia’ e a ‘Fenomenologia do Espírito’ como principais livros.
Hegel desenvolveu o conceito de Dialética, com a tese -
antítese - síntese, como processos históricos de evolução, retrocesso,
revolução e assim sucessivamente até chegar ao fim da História que acreditava
ter sido com a Revolução Francesa.
KARL MARX (1818-1883), natural de Trier na Prússia, no seio de uma
família judia da classe média, filho de um funcionário público que teve de
forçosamente converter-se ao luteranismo e abnegar a fé judaica, para assim poder
exercer a advocacia, era no entanto descendente de uma linhagem de Rabbis, tal
como o seu avô Mordechai; Karl Marx estudou Direito e Filosofia, e exerceu o
jornalismo como profissão, nomeadamente jornalismo de cariz político-ideológico,
que o obrigou a exilar-se sucessivamente, na Bélgica, em França, na Holanda e
por fim em Inglaterra onde veio a organizar a I Internacional, viveu em Londres
com muitas dificuldades financeiras e problemas de saúde, morreu na pobreza,
deixando uma vasta obra, destacados como principais e mais influentes livros ‘O Capital’, escrito em III Tomos e o ‘Manifesto do Partido Comunista’ em parceria com Engels.
Marx apoia-se nas ideias e na dialética de Hegel, para
desenvolver a partir da sua análise sociológica, histórica e política, o Fim da
História, que ocorreria através da revolução da classe proletária, culminando numa
sociedade sem classes e por fim, a forçosa conclusão do processo dialético da
História, supondo-se que a humanidade teria chegado ao mais alto nível de
desenvolvimento económico, social e político.
AUGUSTE COMTE (1798-1857) foi um pensador francês, nascido em Montpellier,
era secretário do filósofo socialista- utópico Henri de Saint-Simon com quem
rompera, Comte procurava compreender as mudanças sociais, provocadas tanto pela
Revolução Francesa, como pela Revolução Industrial, dedicando-se assim a criar
uma nova ciência, desenvolveu a sua filosofia e escreveu o ‘Curso de Filosofia Positivista’, do seu pensamento destacam-se a lei dos Três
Estados, a análise histórica da evolução social e a classificação das ciências.
John Dewey (1859-1952) Estadunidense, idealizador do pragmatismo
iniciado por Whiliam James, Dewey escreveu entre outros livros, ‘Liberdade e Cultura’, no qual defendeu a Cidadania Ativa, o seu pensamento
influenciou enormemente a reforma do sistema educativo dos EUA.
MAX WEBER (1864-1920) nasceu em Herfurt, na Alemanha, morreu
prematuramente aos 56 anos, embora fosse sociólogo, Max Weber escreveu sobre
política e economia, deixou vários livros inacabados, dos seus livros mais
marcantes destacam-se ‘A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo’, uma análise histórica, sociológica e política do seu
tempo. Em política terá escrito “Ciência e Política Duas Vocações”.
Martin Buber (1878-1965) nasceu na Áustria, era judeu e religioso,
pelo que fugiu do Nazismo, fixando-se no Reino Unido, como sionista defendeu um
Estado binacional para a Palestina, existencialista, escreveu o célebre ‘Eu e Tu’, onde defendia o diálogo
entre pessoas, grupos, entidades e povos numa relação onde não há um vencedor,
mas sim um diálogo onde ambas as partes saiam a ganhar.
Hannah Arendt (1906-1975), alemã e judia, exilou-se nos EUA, tendo-se
dedicado a estudar as relações de poder em particular o regime nazista de
Hitler, tendo escrito entre outros o seu mais famoso livro: ‘As Origens do Totalitarismo’ onde analisa a origem do nazismo na Alemanha e do stalinismo na União Soviética, outro livro é 'A Banalidade do Mal' escrito a partir de artigos para o semanário 'The New Yorker' sobre o julgamento de Heichman em Jerusalém no ano de 1961.
Simone de Beauvoir (1908-1986) Grande escritora e pensadora francesa, da
corrente existencialista, foi uma das idealizadoras do moderno feminismo, ‘O segundo sexo’, livro célebre que contribuiu sobremaneira para o
movimento feminista dos anos 60 e 70 do Século XX.
Michel Foucault (1926-1984) nasceu em França, foi um pensador analítico,
debruçou-se a estudar o marxismo e a fazer a análise crítica dos discursos do
poder político pela ‘Arqueologia do Conhecimento’. Não se considerava um filósofo e não gostava da
categorização das ideias.
Jacques Derrida (1930-2004) Francês, nascido na Argélia, era um pied-noir, tinha ascendência judaica de etnia sefardita, o que lhe
deu uma consciência muito critica de si mesmo, criou o método chamado “Desconstrucionismo”, em suma, uma nova forma de reinterpretar os textos e
as ideias, patente no seu livro ‘Discursos e Fenómenos’. Foi considerado um dos mais marcantes pensadores do
Século XX.
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